Freitag, Juli 07, 2023

O início de um possível "MEMOIR"

Já faz um tempo que tenho pensado em registrar minhas experiências durante os anos pandêmicos. Na realidade, já comecei esse so-called "memoir" e durante alguns dias minha memória deslizou por palavras, sentenças longas, outras enxutas, e até que rendeu umas 20 poucas páginas de caderno pautado. E gosto de escrever à mão. Não sei explicar o porquê, talvez escrever de modo old school me remete ao que está plantado no meu inconsciente. Fui criança nos anos 80, adolescente no início dos 90 (incluindo anos iniciais de faculdade). Essas eram época pré-Google, pré-Wikipedia, pré-CHATgpt. Então escrevíamos. Pelo menos eu copiava páginas e páginas da Barsa, Mirador, Enciclopédia Britânica e do Tesouro da Juventude. Se contar para a geração ZOOMER, eles não acreditarão que copiávamos provas à mão, por minutos ou horas, para somente depois começar a resolver os exercícios. E quanto ao memoir, ou o possível memoir, terei que fazer um disclaimer de que não poderei escrever partindo do ponto de vista de quem perdeu um ente querido por Covid, pois isso não aconteceu na minha família. Não poderei escrever de um ponto de vista de quem teve a doença, porque isso também não me ocorreu. Escreverei da perspectiva de uma professora que sou, e que mesmo já acostumada com o ensino à distância desde 2007, eu, professora vi e vivi coisas inéditas, inusitadas, quase que surreais pois todos os alunos brasileiros e os professores tiveram que transformar suas casas em ambiente escolar. Foi um caos para todos, já que as papelarias também foram obrigadas a fechar. Tivemos menos de 2 semanas para montar um sala-de-aula em nossas casas, aprender a lidar com redes sociais, plataformas das escolas, equipamentos de gravação e edição de videoaulas. Se contar, todas as terminologias que as professoras do ensino infantil não estavam familiarizadas. E para os pais? Pobre dos pais que tiveram que virar pedagogos, alfabetizadores, professores de idiomas estrangeiros, entender de física, química orgânica, citologia e fazer as crianças prenderem suas atenções para uma tela, que antes só serviam para eles ver vídeos ou jogar seus games eletrônicos. Me recordo que, para mim, tudo começou em março de 2020 e foi se dissolvendo em meados de 2022. Mas enfrentamos consequências de muita defasagem, de muito trauma, de um desconforto que, ao meu ver, foi totalmente desnecessário. Pessoas morreram, anyway. Pessoas foram intubadas, anyway. Pessoas perderam demais com a falta do contato social. Eu recomecei terapia por conta de tudo isso. Conhecidos meus se mudaram para cidades menores para fugirem das aglomerações das metrópoles. Eu conheci o rosto de muitos alunos novos, somente dois ou três anos depois, por conta do uso obrigatório das máscaras (outro absurdo). Vou recuperar o meu caderno pautado, começar a digitar os capítulos que já engrenei com letras tortas cursivas. Espero um dia concluí-lo. July 7th, 2023

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